Boko Haram ataca vilarejo no Norte de Camarões

Um cristão foi morto e muitas famílias se tornaram deslocados internos

No dia 15 de março, militantes do Boko Haram atacaram o vilarejo de Lambram, próximo à fronteira entre Camarões e Nigéria. O ataque aconteceu de madrugada e faz parte dos locais mais atingidos pelos ataques dos radicais no extremo Norte de Camarões.

Animais foram saqueados e diversas plantações de subsistência – a pertencentes a cristãos- foram destruídas pela segunda vez em menos de três meses. Mogozo Tehawa, um cristão de 45 anos que fazia parte da Igreja Evangélica em Torou, uma comunidade vizinha, foi baleado na cabeça e não resistiu aos ferimentos. Ele foi a única pessoa morta nesse ataque.

“Estamos subindo a montanha para dormir, desde que os ataques do Boko Haram se tornaram frequentes. Naquela noite, ele [Mogozo] se atrasou e como não ouvia bem, não percebeu os passos dos militantes atrás dele… Eles o encontraram sozinho em casa e o mataram”, explicou o pastor Paul da Igreja Evangélica em Tourou.

Onda de deslocados internos

Na manhã do dia seguinte ao ataque, cristãos se reuniram no terreno do cristão, que era pai de cinco filhos, para o velório. O medo continua no ar e alguns cristãos de Lambram se mudaram para comunidades vizinhas.  O número exato de cristãos atingidos pelo atentado ainda está sendo averiguado por nossos parceiros, mas, ao menos 1500 pessoas se tornaram deslocados internos na região desde o início do ano. Mais de metade do grupo era de cristãos.

“Muitos viajaram para longe. Os ataques estão custando muito. Mas as pessoas não enxergam muitas opções. As fazendas e vida deles em Lambram não podem ser carregadas na mudança. Então, eles voltam e esperam em Deus que fiquem seguros”, conta o pastor Paul com preocupação.

A mesma comunidade foi atacada por cem militantes do Boko Haram em janeiro deste ano. A casa de dez cristãos foi saqueada e uma mulher com mais de 60 anos foi morta à tiros na própria casa.

A Perseguição a Cristãos na Nigéria e Camarões

Os cristãos na Nigéria, particularmente no Norte, continuam a viver sob grande pressão e amedrontados pela ação de militantes islâmicos e criminosos armados. Todos os anos, mais seguidores de Jesus são mortos por causa da fé na Nigéria do que em qualquer outro lugar do mundo. Os ataques brutais costumam envolver a destruição de propriedades, sequestros, violência física e sexual e morte. Além disso, os cristãos são privados de seus meios de subsistência e expulsos de suas casas.

A violência por parte de grupos extremistas islâmicos, como os radicais entre o povo fulani, o Boko Haram e o ISWAP (Estado Islâmico da Província da África Ocidental) aumentou durante a presidência de Muhammadu Buhari, colocando a Nigéria no epicentro da violência direcionada contra a igreja. O fracasso do governo em proteger os cristãos e punir os perseguidores apenas fortaleceu a influência dos extremistas.

A ascensão da militância islâmica ocorre em um contexto de alterações climáticas, degradação ambiental e crescimento populacional que empurram os fulanis – criadores de cabras de maioria islâmica – e o seu gado para o Sul. Isso está criando tensões com os agricultores, inclusive cristãos. Entre os fulanis, há extremistas islâmicos que transformaram as disputas em algo violento com motivação étnica e religiosa.

Os cristãos que vivem nos estados do Norte do país, onde as leis são baseadas na sharia (conjunto de leis islâmicas), são tratados como cidadãos de segunda classe. Os cristãos de origem muçulmana sofrem rejeição das suas próprias famílias e pressão para renunciar a nova fé.

A Nigéria ocupa a 6ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2024, que classifica os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos.

Já em Camarões, a disseminação da ideologia extremista islâmica continua acelerando, principalmente na região Norte do país, onde há uma imensa população muçulmana. Isso significa que a conversão do islamismo para o cristianismo é mais perigosa do que nunca. Nessa região de Camarões, novos convertidos são muitas vezes forçados a praticar a fé em segredo, e ter sua própria Bíblia e qualquer literatura cristã pode levar a ameaças e agressões. Revelar a fé em Jesus para membros da família ou da comunidade coloca o convertido em um risco significativo.

A ameaça iminente do Boko Haram e do Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP, da sigla em inglês) no extremo Norte também é uma preocupação. Cristãos nessa parte de Camarões enfrentam a possibilidade de sequestro, violência sexual, deslocamento forçado e morte. Além disso, atividades da igreja são severamente interrompidas – muitas igrejas são incapazes de funcionar devido a ataques e deslocamento, junto com a pressão do governo.

A instabilidade política também é uma preocupação para cristãos, porque significa que são cada vez mais vulneráveis. Combates em andamento entre governo e grupos rebeldes têm afetado a igreja – com alguns grupos rebeldes fazendo cristãos de alvo. E a crise humanitária na vizinha República Centro-Africana (RCA) tem criado um estado de agitação. Muitos cristãos da RCA fugiram e solicitaram refúgio em Camarões. Isso cria novas dificuldades para cristãos refugiados e para cristãos de Camarões, que buscam seguir a Jesus apesar do caos do conflito atual.

O Camarões está em 43º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2024.

Medo no ar

“O Boko Haram começou a atirar em todo o vilarejo. Eles atingiram minha casa tantas vezes. O som das armas era muito alto. Minha esposa, que tem pressão alta, ficou apavorada. Ela desmaiou de tanto medo. Quando o tiroteio parou, a levei para o pronto-socorro mais próximo, mas ela nunca mais abriu os olhos de novo”, disse Ngahadek, o marido da cristã assassinada no ataque de janeiro, em conversa com parceiros locais da Portas Abertas.

O vilarejo é constituído de aproximadamente 40 casas, a maioria habitada por mulheres, crianças e idosos. Por causa da insegurança gerada pelos ataques repetidos, a maioria dos homens de Lambram e comunidades vizinhas passa a noite nas montanhas ou em áreas seguras. Os que permanecem no vilarejo, muitas vezes precisam dormir ao relento, por causa do calor na região nesse período.

“Os repetidos ataques do Boko Haram e ISWAP a comunidades cristãs e vilarejos no extremo Norte de Camarões têm sido ignorados pela comunidade internacional. Estamos horrorizados que esses ataques continuem imbatíveis, obrigando milhares de pessoas a deixarem suas casas, roças e suprimentos. Pedimos à comunidade internacional que faça tudo que for possível para assegurar que o governo de Camarões proteja todos as comunidades afetas e deslocados internos”, disse o porta-voz da Portas Abertas na África Subsaariana.

Ore pela África Subsaariana  

A oração é mais poderosa do que batalhas violentas, por isso convidamos os cristãos brasileiros a se juntarem a nós no Domingo da Igreja Perseguida (DIP) 2024. Participe do maior movimento de oração em favor dos cristãos perseguidos na África Subsaariana.

Pedidos de oração

  • Clame por consolo do Santo Espírito à família enlutada.
  • Interceda por proteção para a igreja no vilarejo de Lambram.
  • Ore por capacitação para lidar com a perseguição para todos os líderes de igrejas em Camarões.

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