Um processo judicial que tramita na Comarca de Curitiba (PR) chama atenção por envolver o nome do pastor Felippe Valadão, líder da Igreja Novos Começos (antiga Lagoinha Niterói). A ação foi movida pelo ex-jogador de futebol Juscelino da Silva, que afirma ter investido mais de R$ 30 milhões em criptomoedas, após ser apresentado à oportunidade por intermédio do pastor.
Segundo a entrevista concedida pelo advogado Dr. Mariel Marra ao Fuxico Gospel, o processo — registrado sob o número 0005318-74.2022.8.16.0001 — é uma ação de execução de título extrajudicial, o que significa que a cobrança se baseia em contratos firmados fora do âmbito judicial.
Intermediação do pastor
Embora Felippe Valadão tenha sido excluído do polo passivo do processo por decisão judicial — uma vez que não há contrato direto entre ele e o autor da ação —, seu nome aparece em conversas de WhatsApp anexadas à petição inicial. Os prints mostram trocas de mensagens entre o pastor e Juscelino, nas quais Felippe teria atuado como intermediador entre o ex-jogador e empresas como ITX, Intergalax, Rental Coins, entre outras.
De acordo com Marra, as mensagens indicam que o pastor teria tido um papel decisivo na adesão de Juscelino ao investimento, reforçando promessas de rendimento de 10% ao mês. “Sem a participação do pastor, esse investimento provavelmente não teria ocorrido”, afirmou o advogado.
Juscelino teria iniciado os aportes em agosto de 2021, com um depósito de R$ 5 milhões. Entre os meses seguintes, ele realizou outros depósitos, que totalizaram mais de R$ 30 milhões. Em troca, esperava um retorno mensal de R$ 600 mil, conforme consta nas mensagens trocadas com Felippe.
As empresas envolvidas, entretanto, não cumpriram com os pagamentos prometidos. Uma delas já decretou falência, o que levou à extinção da ação de execução e obrigará o ex-jogador a buscar reembolso no processo de falência, onde os credores disputam os valores remanescentes conforme regras de prioridade.
As conversas revelam que a relação entre Juscelino e Felippe Valadão ia além da negociação. O pastor, então ligado à Lagoinha Niterói, mantinha um vínculo próximo com o investidor, o que inclui até convites para eventos da igreja e relatos de amizade antiga. Essa proximidade, segundo o advogado, pode ter influenciado a confiança depositada no negócio.
Em determinado trecho da conversa, Juscelino chega a relatar pensamentos suicidas, dizendo: “Felipe, eu estou pensando em me matar. Não estou aguentando isso. Tudo que eu tinha foi embora e ninguém me ajuda”. A resposta do pastor, de acordo com os autos, teria sido evasiva, mencionando compromissos e reuniões.
O Dr. Mariel Marra foi enfático ao dizer que não se trata de acusação criminal contra o pastor, tampouco há qualquer condenação ou imputação penal. Felippe não é réu no processo e foi formalmente excluído da ação pela Justiça. No entanto, o advogado destaca que há uma responsabilidade moral pelo convencimento que contribuiu para o prejuízo do ex-jogador.
“Felippe foi fundamental na intermediação. A confiança que o Juscelino tinha nele como líder religioso pesou muito. Isso nos obriga a discutir a responsabilidade de quem usa sua influência espiritual para indicar investimentos de alto risco”, afirma Marra.
Outro lado
A reportagem do Fuxico Gospel procurou o pastor Felippe Valadão para comentar sobre o assunto, no entanto, ele respondeu que considera o tema encerrado, já que o processo foi extinto e não vê necessidade de se manifestar publicamente.
O espaço segue aberto caso o pastor, as empresas citadas ou o ex-jogador Juscelino queiram se pronunciar.