Teólogo analisa impacto da morte do Papa Francisco e refuta teorias apocalípticas envolvendo a Igreja Católica

morte do Papa Francisco, ocorrida na segunda-feira (21), reacendeu nas redes sociais e nos meios religiosos uma série de especulações escatológicas, incluindo teorias que ligam o falecimento do pontífice ao cumprimento de profecias do livro do Apocalipse.

Em entrevista, o teólogo e escritor Relry Alves, com mais de 25 anos de estudos em escatologia, se posicionou de forma crítica e detalhada sobre o tema, rejeitando interpretações que vinculam diretamente a figura do Papa ao anticristo ou ao falso profeta.

De forma enfática, Relry afirmou: “A morte do Papa Francisco não tem qualquer peso escatológico no atual ponto cronológico do Apocalipse. Nenhum.”

A cronologia escatológica precisa ser respeitada, diz teólogo

Relry baseia sua análise em uma leitura exegética e cronológica do livro do Apocalipse. Para ele, muitas das interpretações populares que tentam aplicar os eventos atuais às profecias bíblicas ignoram a estrutura progressiva do texto. “O Apocalipse é organizado em três grandes períodos. Há uma sequência que precisa ser obedecida. Não se pode, por exemplo, pular do capítulo 6 para o 13 e achar que já estamos vivendo o governo da besta”, explica.

Segundo o teólogo, os capítulos que tratam da manifestação das bestas — símbolos tradicionalmente associados ao anticristo e ao falso profeta — são precedidos por eventos globais catastróficos, como a destruição parcial da Terra, guerras, pestes e o surgimento das duas testemunhas, todos ainda não observados na atualidade.

Críticas ao sensacionalismo e à “escatologia de jornal”

Durante a entrevista, Relry também criticou o que chamou de “escatologia sensacionalista”, amplamente divulgada em redes sociais e plataformas digitais. Sem citar nomes diretamente, mas mencionando a prática de associar qualquer evento global — como guerras, pandemias ou catástrofes naturais — a sinais da volta de Cristo, o teólogo advertiu: “Isso gera medo, pânico, e não edifica. O texto bíblico precisa ser respeitado.”

Ele também alertou para os riscos de manipulação emocional que essas interpretações podem causar nos fiéis: “Mexer com escatologia sem preparo pode levar pessoas a decisões precipitadas, como já aconteceu no passado. A escatologia não pode ser usada para aterrorizar.”

O papel da Igreja Católica no Apocalipse

Contrariando interpretações que apontam a Igreja Católica como a “grande meretriz” mencionada no livro do Apocalipse, Relry é categórico: “Não há base textual sólida para essa afirmação.” Ele destaca que a identificação da grande meretriz é altamente simbólica e pode remeter a diversos sistemas religiosos ou políticos, inclusive à Jerusalém corrompida da época de João ou a um futuro sistema de dominação religiosa global.

Para ele, a Igreja Católica, assim como as demais instituições cristãs, pode até exercer influência nos eventos escatológicos, mas não desempenha papel central ou exclusivo no cenário apocalíptico. “A Igreja Católica comete erros como qualquer outra. Mas ela, por si só, não é o motor da escatologia.”

Futuro: uma igreja perseguida e unificada

Relry defende a ideia de que, no futuro, o cenário cristão se aproximará do modelo da Igreja Primitiva, voltando à essência da fé sem as divisões denominacionais. “Na escatologia bíblica, veremos a igreja sendo forçada a se reunir em ambientes subterrâneos, escondidos, como na época dos primeiros cristãos. A perseguição fará com que as barreiras entre católicos, protestantes, pentecostais e reformados caiam”, afirmou.

Segundo ele, o ciclo da escatologia culminará com um cenário em que o cristianismo será tratado como uma única fé, perseguida por um sistema político-religioso global. “Não haverá denominações. Haverá fé. E essa fé será colocada à prova.”

Entre a fidelidade ao texto e a responsabilidade com o público

Ao longo da entrevista, Relry Alves reforçou que sua missão é interpretar a Bíblia com honestidade e base acadêmica, mesmo que isso contrarie o senso comum. “A escatologia não é feita para impressionar, mas para instruir. O Papa morreu, sim. Mas isso, no texto do Apocalipse, não muda absolutamente nada”, concluiu.

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