Fieis católicos que passaram a ir em cultos, a convite de amigos evangélicos, pela igreja ser próxima de sua casa ou porque gostam da liturgia e do pastor, se tornaram comuns no país, conforme a Folha de S. Paulo.
É o caso de Claudia, uma mulher de 55 anos, do Rio de Janeiro, que foi batizada, crismada e casada na igreja católica.
Em entrevista à pesquisa de Rodrigo Toniol, professor de antropologia da UFRJ, ela explicou porque se tornou aberta à fé evangélica.
“Eu gosto de frequentar a missa, mas não qualquer missa, com qualquer padre. Tem um padre de uma igreja que gosto de ir que é jovem, ele faz uma homilia maravilhosa e canta maravilhosamente bem. Ele se assemelha muito a um pastor de uma igreja evangélica. Acontece que eu também adoro o louvor da igreja evangélica, a forma como eles louvam, a forma como eles oram”, disse ela.
Conversão não acontece
Apesar do aumento de católicos nas igrejas evangélicas, o pesquisador Rodrigo observou que algumas dessas pessoas não chegam a se converter.
“Durante as últimas quatro décadas, pesquisadores da religião analisaram relatos desse tipo como processos de conversão. Segundo essa interpretação, se esperaria que, pouco a pouco, Cláudia deixasse de ser católica para se tornar evangélica”, comentou.
“No entanto, pessoas como Cláudia não ‘completam’ a conversão. Elas permanecem se declarando católicas e, ao mesmo tempo, frequentam cultos evangélicos”.
Os pesquisadores da religião chamam o fenômeno de múltiplos pertencimentos religiosos, quando a pessoa não segue apenas uma fé, mas se envolve em várias crenças ao mesmo tempo.
“São comuns os relatos de pessoas que se autodeclaram católicas, mas eventualmente tomam um passe no centro espírita ou participam de uma festa em algum terreiro de umbanda”, destacou Rodrigo.
E acrescentou: “No entanto, parecia haver uma separação mais rígida entre católicos e evangélicos, que impedia a circulação de uns nos cultos de outros. É isso o que está se transformando”.
De acordo com o Censo de 2010, 64,6% da população brasileira é católica e 22,2% é evangélica.
Segundo o pesquisador, os dados não mostram que hoje as práticas religiosas dos brasileiros são mais fluidas.
“Estatisticamente, Cláudia é católica, mas, ao observarmos suas práticas de perto, o caso é mais complexo”, exemplificou ele.
Aumento de evangélicos e queda de católicos
Conforme um levantamento divulgado com base no Censo 2010 do IBGE, o número de evangélicos cresceu significativamente, aumentando cerca de 61,5% em dez anos e somando 16 milhões de novos fieis.
O estudo também revelou a continuidade na queda do número de católicos no país.
“Temos notado um declínio acentuado da população católica no Brasil, e essa é uma tendência observada nos Censos de 1991, 2000 e 2010”, afirmou o pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Cláudio Dutra.
“No crescimento da população evangélica como um todo, os pentecostais puxam o crescimento”, acrescentou.