Mudou de cor: Marivalda diz que é negra e Tonha diz que é parda em registro de candidatura; medida pode viabilizar mais recursos partidários

Em um movimento surpreendente e controverso, Marivalda Silva, candidata a prefeita de Candeias pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e sua companheira de chapa, Tonha Magalhães, do Avante, alteraram suas autodeclarações raciais em comparação com as eleições anteriores, levantando suspeitas de que a mudança seja motivada pela busca de recursos do fundo eleitoral, que no Brasil reserva cotas específicas para candidatos negros e pardos.

Nas eleições de 2020, Tonha Magalhães, que concorria ao cargo de prefeita, se autodeclarava branca. Entretanto, para a disputa atual, Tonha mudou sua declaração para parda. Marivalda Silva, que foi candidata a vice-prefeita nas últimas eleições, anteriormente se declarava parda, mas agora, na posição de candidata a prefeita, se identifica como negra. Vale ressaltar que ambas as candidatas possuem pele clara ou morena, características que, segundo alguns analistas, não se enquadram nos padrões convencionais das categorias racialmente definidas como negra ou parda no Brasil.

O que torna essa situação ainda mais intrigante é o fato de que Marivalda e Tonha, que antes eram rivais políticas ferrenhas, agora se unem em uma aliança duvidosa. Tonha Magalhães, durante anos, foi um dos principais nomes do carlismo na Bahia, grupo político liderado pelo ex-prefeito de ACM Neto e sempre esteve em oposição ao PT, partido de Marivalda Silva. Essa mudança abrupta nas alianças e convicções políticas, somada às alterações nas declarações raciais, tem gerado críticas e questionamentos sobre as reais intenções das candidatas, além da incoerência política.

O Brasil possui uma legislação que visa promover a equidade racial nas eleições, destinando um percentual do fundo eleitoral para candidatos negros e pardos, com o objetivo de corrigir desigualdades históricas na representação política. No entanto, essa medida também abriu margem para distorções, como a alteração oportunista da declaração racial por candidatos em busca de maior financiamento.

Uma prática que já foi alvo de críticas em outras situações, como na eleição de 2022, quando ACM Neto, então candidato ao governo da Bahia pelo União Brasil, foi duramente criticado por supostamente tentar ludibriar o eleitor ao se declarar pardo como Tonha se declara, e negro como Marivalda declara de forma indevida.

Segundo especialistas, essa burla no sistema de cotas não apenas desvirtua os objetivos das políticas de ação afirmativa, mas também prejudica a confiança no processo eleitoral e pode configurar crime eleitoral, com possíveis consequências jurídicas para os envolvidos. Diversas investigações ao longo dos últimos anos têm mostrado que a manipulação das declarações raciais é uma prática que se tornou mais comum, exigindo maior vigilância por parte dos órgãos eleitorais para garantir a transparência e a justiça nas eleições.

Em Candeias, a união inesperada de duas figuras que antes se combatiam ferozmente, aliada à mudança de cor declarada, tem sido vista por muitos como uma tentativa desesperada de conquistar o poder a qualquer custo, inclusive desrespeitando as normas que visam proteger a integridade do processo eleitoral. As autoridades responsáveis pelo processo eleitoral devem investigar inclusive o crime de falsidade ideológica e devem estar atenta a essas movimentações, que podem ter repercussões significativas tanto na disputa eleitoral quanto na legitimidade dos recursos públicos destinados à campanha.

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