Na cerimônia, todos os eleitos ao Parlamento de 2024 se reuniram para jurar ou reafirmar lealdade à coroa. O ritual exigido deve ser feito antes que os deputados possam falar em debates, votar projetos de lei ou receber o salário.
Mesmo tendo obedecido ao juramento em outras posses, desta vez Farron não participou do ritual explicando que “todas as nossas promessas e compromissos são feitos diante de uma autoridade muito mais elevada do que o Rei da Inglaterra”.
“Eu não jurei sobre uma Bíblia, mas em vez disso escolhi simplesmente afirmar minha lealdade [ao rei]. Sou parlamentar há 19 anos, fui eleito seis vezes e fiz o juramento sete vezes (no meio do último parlamento, tivemos a opção de jurar lealdade ao novo rei Charles após a morte da Rainha Elizabeth II). Em ocasiões anteriores, jurei sobre uma Bíblia, mas, tendo pensado um pouco sobre isso nos últimos anos, concluí que não faria isso desta vez”, justificou o Farron.
‘Bíblia condena’
O parlamentar explicou o motivo que o fez não repetir o gesto, citando algumas passagens da Bíblia, que ele afirmou ser contra juramento:
“Em Mateus 5:34-37, no Sermão da Montanha, Jesus diz: ‘Mas eu vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; … E não jureis pela vossa cabeça, porque não podeis tornar um só cabelo branco ou preto. Simplesmente, seja o vosso ‘Sim’ ‘Sim’ e o vosso ‘Não’ ‘Não’; o que passa disto vem do maligno’.”
Farron disse que sua escolha de afirmar lealdade em vez de jurar sobre a Bíblia foi baseada em sua compreensão do versículo acima, e também na sensação de que “Deus nos chama para sermos verdadeiros em todos os cenários”.
“Jurar sobre a Bíblia pode implicar que essas promessas são especialmente sagradas – e que, portanto, outras promessas são menos importantes. Mas os cristãos são chamados a dizer a verdade e manter nossa palavra o tempo todo. Cada palavra que falamos é ouvida pelo Deus vivo. Não há alguns compromissos que fazemos diante de Deus e outros que estão além de sua consciência ou julgamento, e pelos quais somos menos responsáveis”, afirmou o parlamentar.
‘Somos embaixadores de Cristo’
Ele também citou 2 Coríntios 5:20, que fala de crentes como embaixadores de Cristo:
“Este é certamente um papel de embaixador em tempo integral e, portanto, eu busco – embora muitas vezes falhe – seguir e representar Jesus em todos os cenários”.
“Esteja eu em um debate contencioso na Câmara dos Comuns, ou na fila do refeitório para o almoço, Deus — de quem sou embaixador — sabe cada coisa verdadeira e falsa que digo. Em Mateus 12:36, Jesus avisa que, ‘os homens terão que dar conta no dia do julgamento de cada palavra descuidada que tiverem falado.’”
O parlamentar disse que não critica os cristãos que decidem jurar sobre a Bíblia, pois pode-se argumentar que eles estão realizando um ato de testemunho público ao fazê-lo.
Ele também pediu que os cristãos se juntem a ele em oração por um tempo de verdade compassiva na política.
“Por ministros do governo e deputados que dirão a verdade, mesmo – especialmente – quando não for popular. Que este Parlamento, onde mais de 50% dos deputados são novos, forme uma cultura de ‘falar a verdade em amor’”, declarou, citando Efésios 4:15.
E finalizou: “Ore também para que os políticos cristãos se destaquem como pessoas cujas palavras são confiavelmente consistentes com suas ações, que não cedem à tentação de manchar a verdade e que se recusam a desumanizar os outros com suas palavras. Ore para que eles tenham a coragem de dizer a verdade do Evangelho.”
No dia do juramento, além de várias traduções a Bíblia, havia uma variedade completa de livros sagrados para os deputados escolherem para colocar a mão ao prestar juramento de fidelidade. Entre eles, o Alcorão, o Bhagavad Gita, a Torá e provavelmente muitos outros que poderiam ser solicitados.