Dezenas de ativistas cristãos se reuniram na Avenida Paulista, coração da cidade de São Paulo, para uma caminhada de conscientização sobre um dos mais sérios problemas mundiais: o tráfico de seres humanos.
Segundo a organização, o objetivo da caminhada anual é conscientizar a população sobre o tráfico humano, que envolve o recrutamento e exploração de pessoas para trabalho forçado, tráfico sexual, exploração online ou servidão doméstica.
Este crime, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo também acontece no Brasil, especialmente nas regiões mais carentes do país.
Estima-se que mais de 40,3 milhões de pessoas sejam vítimas dessa forma de escravidão moderna, que movimenta cerca de 236 bilhões de dólares anualmente, tornando-se a indústria criminosa de maior crescimento global.
Caminhada pela Liberdade
A 10ª edição da Walk For Freedom (Caminhada pela Liberdade), promovida pela organização global A21, foi realizada no sábado (19) e se concentrou em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Ativistas da Walk For Freedom se reuniu no vão do MASP. (Foto: Raquel Quelyta/Leandro Corrêa)
A ação, que ocorre simultaneamente em centenas de cidades ao redor do mundo, mobiliza pessoas em uma caminhada silenciosa e pacífica, durante a qual são utilizados cartazes e distribuídos materiais informativos sobre o tráfico humano.
Folhetos de conscientização são entregues aos transeuntes. (Foto: Raquel Quelyta/Leandro Corrêa)
Com cartazes que traziam mensagens impactantes, como “Abolir a escravidão em todos os lugares para sempre”, “A cada 30 segundos, alguém se torna um escravo” e “A escravidão ainda existe”, os ativistas também distribuíram folhetos informativos sobre esse grave problema mundial.
Ativistas carregam cartazes de conscientização. (Foto: Raquel Quelyta/Leandro Corrêa)
Segundo a organização, o montante alarmante gerado pelo tráfico de seres humanos reflete não apenas o lucro exorbitante obtido com atividades ilegais, mas também a gravidade da situação, que afeta milhões de pessoas em todo o planeta.
Envolvimento da igreja
Segundo Larissa Hoh, voluntária na A21 na organização da Caminhada em São Paulo, é importante que os cristãos tomem uma posição ativa marchando publicamente por uma causa como tráfico humano, disse ela.
“Temos um convite diário da parte de Deus para sermos agentes de justiça … porque a justiça é um dos pilares do trono dele”, afirma.
Para justificar a importância do envolvimento cristão na causa do tráfico humano, Larissa citou textos bíblicos como Provérbios 31:8,9 e Isaías 1:17, ambos que mostram que os cristãos devem se pronunciar a favor dos desamparados, daqueles que por alguma razão não podem se manifestar. “É um imperativo, uma comissão para nós”, afirma.
Em entrevista em setembro de 2023, o pastor Lucas Hayashi, um dos líderes da Zion Church em São Paulo, destacou a importância do envolvimento da igreja.
Nesse contexto, ele abordou a gravidade da exploração infantil, especialmente na Ilha de Marajó, onde a igreja oferece apoio às vítimas e suas famílias, além de discutir o papel da instituição no combate a esses crimes.
“Em primeiro lugar, é fundamental que a igreja esteja consciente da gravidade do problema, pois sem esse conhecimento, não poderá interceder e agir de forma eficaz”, esclareceu.
“Em seguida, a oração é essencial para pedir a proteção de Deus sobre as crianças e para buscar estratégias ativas de intervenção. Isso inclui o engajamento de pessoas influentes em diversas esferas, como política, negócios e comunicação, para promover uma transformação significativa nessa situação abusiva que afeta as crianças”.
Embora a maioria das pessoas não tenham consciência, tanto a exploração sexual quando o tráfico humano atinge homens, mulheres e crianças.
‘Conscientização e a prevenção’
Segundo Larissa, a conscientização e a prevenção contra esse crime, que “viola a dignidade das pessoas”, são os trabalhos mais importantes, pois colocam as vítimas em uma situação de desespero, onde não conseguem vislumbrar esperança.
“Elas não conseguem vislumbrar um futuro diferente do que estão vivendo, pois muitas vezes nem sabem como escapar dessa realidade”, explica.
Segundo Larissa, muitas vezes essas pessoas não percebem que suas experiências não são normais, pois estão imersas em contextos culturais que perpetuam a opressão e a exploração. Muitas delas são exploradas desde a infância e a adolescência, o que as priva completamente de viver os planos de Deus para suas vidas.
“É aí que vejo o quanto o cristão tem um papel chave nisso”, diz.
De acordo com sua visão, o cristão não possui apenas uma habilidade natural para realizar campanhas, mas também carrega uma mensagem de redenção e esperança para aquelas pessoas que passaram ou ainda estão enfrentando situações traumáticas como essa.
“A ajuda humana vai até certo limite, mas o poder de redenção e de restauração de Jesus vai além”, diz.
Conscientização pública
Coordenado por Larissa e Rebecca Samaan, também voluntária na organização da Caminhada, o grupo formou uma fila com os cartazes levantados e seguiu pela calçada da Avenida Paulista, em direção à Consolação e depois à Bela Cintra.
Larissa Hoh e Rebecca Samaan, voluntárias na A21 na organização da Caminhada em São Paulo. (Foto: Raquel Quelyta/Leandro Corrêa)
A proposta de levar a conscientização ao público envolveu a caminhada e as mensagens em cartazes, que chamavam a atenção para o problema.
“Nos encontramos no MASP, formamos uma fila e depois seguimos pela calçada da Paulista em direção à Consolação até a Bela Cintra. Atravessamos a avenida e retornamos pelo outro lado até chegarmos no MASP novamente”, explicou Larissa, que agradeceu o apoio que o grupo recebeu da PM de São Paulo.
Sobre a A21
A A21 é uma das maiores organizações globais dedicadas ao combate ao tráfico de pessoas, atuando em nível local, nacional e internacional. Reconhecida e premiada, a A21 trabalha ativamente na prevenção do tráfico humano, com iniciativas que visam evitar que essa prática aconteça desde suas raízes.