O advogado criminalista Rogério Matos, que representa a acusação no caso do assassinato da cantora gospel Sara Mariano, concedeu uma entrevista na noite desta terça-feira (22), onde trouxe atualizações importantes sobre o processo.
O caso, que envolve feminicídio, ocultação de cadáver e associação criminosa, completou um ano nesta semana e segue gerando grande comoção no meio gospel e entre os familiares da vítima.
Durante a entrevista, Rogério Matos explicou que, em setembro deste ano, a juíza da comarca de Dias D’Ávila, cidade onde o crime ocorreu, emitiu a chamada “sentença de pronúncia”. Essa decisão judicial aponta que há indícios suficientes de autoria e materialidade para levar os quatro acusados ao júri popular. Entre eles, está Ederlan, apontado como o mentor intelectual do crime, e outros três comparsas que teriam participado ativamente do assassinato.
“A juíza entendeu que existem provas suficientes para que todos eles sejam levados a julgamento. A sentença de pronúncia manteve os quatro acusados presos, como solicitado pelo Ministério Público, e isso é muito importante. Eles continuam devidamente custodiados no Complexo da Mata Escura, em Salvador, aguardando o julgamento”, esclareceu Matos.
O advogado ressaltou ainda que o pedido de manutenção das prisões preventivas foi aceito pela magistrada, já que não há, no entendimento da Justiça, condições para que os acusados aguardem o julgamento em liberdade. “Eles seguem presos e acredito que não terão chance de serem soltos antes do júri. O risco de fuga ou de reincidência em crimes semelhantes é muito grande”, afirmou.
Mentor intelectual e planejamento do crime
Segundo as investigações, Ederlan foi o principal responsável por articular o assassinato de Sara Mariano. O advogado detalhou que o crime foi planejado por meses, desde setembro de 2023. “Ele é o mentor intelectual. Ederlan planejou tudo em sua própria casa, que servia como uma espécie de quartel-general. A intenção era eliminar Sara, e isso foi feito com uma frieza assustadora”, disse Matos.
Ainda de acordo com o criminalista, o assassinato não foi um simples feminicídio, mas também um crime qualificado por quatro agravantes: motivo torpe, uso de meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e ocultação de cadáver. “Além de tudo isso, a denúncia também incluiu o crime de associação criminosa. O que aconteceu depois do assassinato foi horrível. Eles voltaram ao local dois dias após o crime e atearam fogo ao corpo de Sara para tentar ocultar as evidências”, detalhou.
Provas robustas e linha de defesa dos réus
Rogério Matos destacou que o inquérito policial que embasou a acusação é extenso, com mais de 700 páginas, e possui provas sólidas que garantem uma condenação no júri popular. “Esse inquérito foi muito bem feito. Temos provas incontestáveis: metadados, imagens de pedágios, localização de GPS e depoimentos. Não precisamos que os réus confessem o crime, pois o que temos é mais do que suficiente para levá-los ao tribunal e garantir uma condenação”, afirmou.
No entanto, o advogado mencionou que, durante o processo, Ederlan chegou a fazer uma confissão parcial, admitindo sua participação de forma superficial. Outros envolvidos, como Wesley Pablo, conhecido como Zadock, optaram por permanecer em silêncio, o que é um direito previsto pela lei. “A estratégia de defesa de Ederlan agora é negar participação no crime. Ele tenta passar a ideia de que não teve envolvimento direto, mas as provas dizem o contrário”, comentou Matos.
Recursos da defesa e expectativas para o júri
Após a sentença de pronúncia, as defesas dos acusados apresentaram recursos. O advogado explicou que esse é um trâmite comum, mas que não muda o fato de que os quatro acusados seguirão presos até que o tribunal decida sobre os recursos e o julgamento seja finalmente marcado. “Todos os recursos já foram apresentados e agora estamos na fase de contrarrazões. Após isso, o processo sobe para o Tribunal de Justiça da Bahia para que o recurso seja julgado. Somente depois dessa etapa é que será possível marcar a data do júri popular”, explicou.
O criminalista acredita que, mesmo com a possibilidade de atrasos, o julgamento deve acontecer dentro de um ano. “Pode ser que leve mais um ano para o júri ser marcado, mas o mais importante é que a justiça tem mantido esses criminosos presos. A prisão preventiva deles é essencial, pois não há a menor condição de que fiquem em liberdade. São pessoas extremamente perigosas”, afirmou Matos.
Impacto na família e na comunidade gospel
Além das questões legais, o advogado também falou sobre o impacto devastador do crime na família de Sara Mariano. “Eu converso com a mãe e a irmã de Sara quase diariamente. A dor delas é imensa e o sofrimento é constante. Elas querem justiça, e a nossa luta é para garantir que esses assassinos sejam condenados”, desabafou.
O caso Sara Mariano também repercutiu fortemente na comunidade gospel. A cantora, que era muito conhecida na região, foi morta de maneira brutal, recebendo 22 facadas, segundo laudos periciais. “O crime chocou não só a família, mas toda a comunidade gospel. As pessoas ainda estão em choque pela crueldade e premeditação desse assassinato”, comentou Matos.
Rogério Matos encerrou a entrevista reforçando que acredita na condenação dos acusados no júri popular. “É um processo forte, cheio de provas. Temos muita confiança de que o júri vai condená-los. A justiça já foi feita até aqui, mantendo-os presos, e agora seguimos na expectativa de uma sentença justa no tribunal”, concluiu.