Justiça Eleitoral abre inquérito contra pastor por pressão política em igreja

O pastor Clemerson Silva, da Assembleia de Deus em Cascavel, Paraná, está sendo investigado pelo Ministério Público Eleitoral por suposta coação eleitoral contra obreiros e fiéis da igreja. De acordo com os documentos e áudios anexados ao processo, o pastor teria pressionado membros da congregação a apoiarem o vereador Misael Júnior, que concorre à reeleição nas eleições municipais de 2024.

A denúncia surgiu após a gravação de uma reunião interna na igreja, onde o pastor Clemerson teria feito exigências claras e diretas para que os obreiros, que recebem moradia e salários da igreja, apoiassem politicamente o candidato escolhido pela liderança.

Em uma das falas registradas no áudio, o pastor afirmou: “Se você mora numa casa da igreja, recebe um salário da igreja, e se você não trabalhar pelo projeto dessa igreja, amanhã leva a chave no gabinete para mim”. Ele ainda teria completado dizendo: “Desleal não trabalha comigo”, em referência à necessidade de alinhamento político dentro da instituição religiosa.

Além das exigências, o pastor também teria ameaçado os que não apoiassem Misael Júnior, afirmando que quem gravasse a reunião seria “pego”. A fala gerou preocupação entre os membros, muitos dos quais se sentiram coagidos a seguir a orientação política do pastor para manterem seus cargos e benefícios oferecidos pela igreja. “Ou você está no barco ou você está fora dele. É assim que vai ser”, teria dito Clemerson Silva durante o encontro.

O Ministério Público Eleitoral, ao tomar conhecimento da gravação e das denúncias, instaurou um inquérito para investigar a possível prática de coação eleitoral, conforme prevê o artigo 301 do Código Eleitoral, que trata de crimes relacionados à coerção de eleitores.

O artigo estabelece que “usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido” pode resultar em pena de reclusão de até quatro anos e multa.

A decisão da Justiça Eleitoral destaca que há indícios robustos de que Clemerson Silva tenha utilizado sua influência religiosa para obrigar funcionários e obreiros a apoiarem o vereador Misael Júnior, colocando em risco a liberdade de voto dos membros da igreja.

O promotor de justiça responsável, Flávio de Oliveira Santos, encaminhou o caso à Delegacia de Polícia Federal para que seja conduzida uma investigação aprofundada e, caso comprovada a prática do crime, o pastor poderá ser processado criminalmente.

Na decisão emitida pela juíza eleitoral Claudia Spinassi, que autoriza a abertura do inquérito, é mencionado que “considerando ser o crime de maior potencial ofensivo, visto que cominar pena privativa de liberdade superior a dois anos, encaminhem-se os autos ao Núcleo Regional Eleitoral das Garantias no Estado do Paraná”. Com isso, o caso passa a ser investigado por instâncias superiores, dada a gravidade das acusações.

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