A exploração sexual infantil continua a ser um problema alarmante no Brasil em 2024. Apesar dos esforços para melhorar a proteção e o suporte às vítimas, os dados atuais revelam a persistência e a gravidade da situação.
De acordo com o Disque 100, serviço de denúncia da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, houve um aumento de aproximadamente 8% no número de denúncias de abuso sexual infantil nos primeiros seis meses de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 320 crianças sofrem diariamente algum tipo de abuso sexual no Brasil. No entanto, esse número pode ser maior, pois apenas sete em cada 100 casos são denunciados.
A Fundação Abrinq, destacou que cerca de 70% dos abusos acontecem dentro da casa da vítima, por familiares ou pessoas do círculo de confiança da família.
A gravidade do problema exige uma resposta contínua das autoridades, da sociedade civil e das organizações não governamentais
Neste contexto, as redes sociais e o acesso à internet desempenham um papel duplo: por um lado, proporcionam ferramentas para denúncias e educação; por outro, criam novos canais para a exploração sexual.
Este ano, a pastora e cantora Cristina Mel alertou os pais sobre o crescente uso dessas plataformas para fins ilícitos e destacou a necessidade urgente de implementar e reforçar medidas de segurança e monitoramento online.
Igrejas na luta contra o abuso sexual infantil no Brasil
No Brasil, diversas igrejas têm se mobilizado ativamente para combater o abuso sexual infantil, desempenhando papéis significativos na conscientização, prevenção e apoio às vítimas. Essas iniciativas são variadas e incluem campanhas de conscientização, treinamentos, e suporte direto às vítimas e suas famílias.
Essas atividades demonstram um esforço coletivo para enfrentar um problema grave e urgente, refletindo o compromisso do Corpo de Cristo em promover um ambiente mais seguro e protetor para as crianças em suas comunidades.
Em setembro de 2023, Cristina Mel estava entre os convidados para prestigiar a pré-estreia do filme ‘Som da Liberdade’, que aborda o tráfico sexual de crianças. Em entrevista, ela falou sobre o papel da igreja frente à exploração sexual infantil.
“O papel da igreja sempre foi proteger e orientar. Ensinar o pequenino no caminho que deve seguir. Então o que a igreja pode fazer? Falar sobre esse assunto, falar sobre a exploração, falar sobre tudo o que está sendo feito para desconstruir a inocência, a família e sexualizar a criança muito cedo nos filmes, desenhos e em toda a mídia que temos hoje em dia. Falar abertamente e isso precisa começar dentro de casa. A igreja também precisa deixar os tabus de lado porque agora é a hora”, disse a cantora.
Cristina também alertou sobre os cuidados que os responsáveis devem tomar com suas crianças:
“Os pais também precisam ficar mais alertas. As redes sociais são uma grande armadilha muitas vezes. A procura de atores mirins para teatro, para virar uma super estrela ou influencer é muita tentação e ilusão. As crianças começam a conversar com essas pessoas achando que são outras crianças e são pedófilos por trás de tudo isso”.
Estados com maiores índices de abuso sexual infantil no Brasil
Os índices de abuso sexual infantil no Brasil variam significativamente entre os estados, refletindo a complexidade e diversidade dos contextos regionais. Os estados com maiores índices de abuso sexual infantil são: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco.
Segundo o Notícias Adventistas, entre janeiro e a primeira quinzena de maio deste ano, a Bahia registrou 1.557 casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, o que equivale a 11 denúncias por dia.
O Rio de Janeiro, em apenas um ano, registrou quase nove mil vítimas de abuso. Os dados, que são da soma de informações do Instituto de Segurança Pública (ISP) e do Disque 100, indicam que ao menos uma denúncia de violência sexual foi feita por hora no estado.
Em 2023, foram registradas no Rio de Janeiro 8.836 denúncias de abuso sexual, das quais 3.540 envolviam crianças de até 13 anos, o que representa 40% do total. Os dados também indicam que o maior índice de violência sexual contra crianças ocorre entre os 11 e 13 anos.
De acordo com agências da Organização das Nações Unidas (ONU), anualmente, um bilhão de crianças é vítima de algum tipo de violência, incluindo abuso sexual. Embora 88% dos países tenham leis específicas para proteção infantil, menos da metade efetivamente as aplica.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023 revelou mais de 81 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, evidenciando um aumento alarmante em relação aos anos anteriores.
“Cabe a nós proteger nossas crianças, garantindo a elas o amor, a segurança e o auxílio que precisam”, disse Jeanete Lima, educadora e coordenadora do projeto adventista “Quebrando o Silêncio” — com o objetivo de combater e conscientizar sobre diversas formas de violência, com foco especial no abuso sexual infantil, violência doméstica e bullying — para oito países da América do Sul.
“Na igreja é preciso garantir a segurança no ambiente religioso e treinar especialmente os departamentos que trabalham com crianças e adolescentes quanto à segurança dos menores”, acrescentou.
Janete destacou as marcas profundas que as vítimas de abuso sexual levarão por toda a vida, como a instabilidade emocional, o comportamento compulsivo, a depressão, os transtornos de personalidade, bipolaridade e até ideação suicida.
“Ainda pode prejudicar a produtividade e o relacionamento amoroso. Foi Jesus mesmo quem disse: Deixem que as crianças venham a mim e ai daquele que faça tropeçar meus pequeninos. Um abuso é uma maneira brutal de impedir que as crianças vão até Jesus, pois gera insegurança, vazio, dúvida com relação ao amor verdadeiro e isso limita o desenvolvimento saudável de uma criança”, explicou Janete.
Denuncie
Existem várias formas seguras e eficazes para denunciar abusos e violências, garantindo que as vítimas possam buscar ajuda e proteção:
1. Disque 100 (Direitos Humanos): Serviço que recebe denúncias de violações de direitos humanos, incluindo abuso e violência contra crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis. As denúncias podem ser feitas anonimamente, 24 horas por dia.
2. Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher): Serviço especializado em violência contra a mulher, que oferece orientações e encaminhamentos para a rede de serviços especializados.
3. Delegacias: Em várias cidades do Brasil, existem delegacias especializadas, como as Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAMs), Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), e Delegacias de Proteção ao Idoso.
4. Conselho Tutelar: Os Conselhos Tutelares são responsáveis pela proteção dos direitos das crianças e adolescentes e devem ser contatados em casos de suspeita ou confirmação de abuso ou exploração contra menores.